A verdade é que eu não me cabia em mim de vontade de tricotar esse xale, com sua renda plena de flores de campânula.

Para tecê-lo, não desgrudei os olhos dos gráficos. Repleto de duplas laçadas, a atenção também deve ser dupla. Além disso algumas linhas são trabalhadas também no lado avesso. Os erros que cometi foram descobertos rapidamente, sem necessidade de desmanchar muito, exceto por um, horroroso, percebido tardiamente, do qual falarei mais tarde.
Início
A borda superior desse xale não é trabalhada em cordões de tricô e sim com uma renda bem delicada, diferente.

O início desse xale não foi simples. Por três vezes tentei montar os pontos mas não conseguia pegar os pontos na lateral nem onde os pontos foram montados. Hora de parar e estudar.
Pesquisando no grupo da designer Jane Araújo no Ravelry eu encontrei essa dica.
A solução foi usar a montagem e-loop sugerida pela designer. Montei os pontos usando essa técnica, teci a primeira carreira, olhei bastante para ver como havia ficado e determinei onde levantaria os pontos nessa extremidade. Segui as demais instruções e funcionou, consegui montar os pontos da borda superior e parti para o gráfico da primeira repetição.
O corpo
Queria fazer o tamanho do xale indicado na receita, com quinze motivos de flor de campânula em cada metade do xale. Para obter quinze motivos em cada metade seriam necessárias oito repetições do gráfico.
Depois que terminei a primeira repetição, pausa para desmanchar e recomeçar usando agulha de numeração menor. Troquei a agulha 4mm pela 3,5mm.
Nos primeiros dias as repetições fluíam rapidamente, a quantidade de pontos nas agulhas ainda era pequena. Usei marcadores de pontos nas laçadas duplas. No prazo de uma semana havia concluído seis repetições e cada metade do xale já exibia onze motivos de flor.

Na segunda semana estava trabalhando a penúltima repetição do corpo, era o dia do meu aniversário e descobri um erro terrível bem no início do xale, lá na segunda repetição. Isso me deixou muito, muito chateada. Estava pensando em presentear o xale, mas nunca o faria com esse erro horrendo. E não estava nem um pouco a fim de desmanchar até a segunda repetição para refazê-lo.

Cogitei isolar e desmanchar apenas as colunas de pontos desse elemento e refazer a renda usando agulhas de pontas duplas, como foi mostrado nessa publicação. Quando se trata de tranças é um processo fácil e já fiz algumas vezes. Mas como seria refazer pontos rendados?
Para ter uma ideia do tamanho da tarefa, isolei a coluna e desmanchei apenas a primeira linha. Logo vi que não seria fácil. Refazer renda, que nesse caso é trabalhada algumas vezes também pelo avesso, com um fio tão fino e duplas laçadas… Me acovardei. Então decidi o seguinte: eu exibirei esse erro gritante por aí, esse xale será meu.
A barra
Na terceira semana concluí a oitava e última repetição do corpo e iniciei os gráficos da barra. Nessa altura havia tantos pontos nas agulhas que demorei uma semana para concluir a barra e arrematar. E o arremate em correntinha de crochê, levei três dias para concluir, crochetando no carro, no clube, sempre que tinha uma brechinha.

O fio
Resolvi experimentar o fio Esterlina e comprei três novelos para tecer esse xale, são 690 metros. Usei menos da metade do terceiro novelo. No mínimo haveria duas junções de fio no trabalho.
Quando o fio acaba, nunca junto um novo fio dando nó do lado avesso. A trama do tricô não é estática, está sempre se ajustando, se acomodando às trações impostas ao manusear a peça, seja ao usá-la ou lavá-la. Sempre há o risco do nó passar para a frente do trabalho e se acomodar ali.
O que faço quando o fio vai acabar é trabalhar até restar uns 15 centímetros, então pego o novo fio deixando sobrar outros 15 centímetros desse fio também. Segurando os dois fios, com as pontas em direções opostas, trabalho dois pontos consecutivos em fio duplo. Então solto o fio mais curto e passo a tricotar com o novo novelo. Fica firme, e sem nó algum. No avesso ficam as duas pontas que serão embutidas na fase de acabamento. E depois de embutidas, fica imperceptível, profissional. Se for um fio mais grosso, trabalho em fio duplo apenas um ponto e basta.

O primeiro novelo de Esterlina não tinha nenhuma emenda. Já o segundo veio com duas emendas, dois nós super apertados. Tive de cortá-los. Eu já previa dois pares de pontas no avesso porque usaria três novelos. Mas no final, foram quatro pares de pontas, mais a ponta da montagem dos pontos e a ponta do arremate. Mas ficou perfeito, imperceptível, mesmo usando um fio tão fino.

O xale cresceu bastante depois de bloqueado na sua forma final. É incrível como esse amontoado de pontos cresce depois de molhado e se transforma num verdadeiro xale ao ser bloqueado! Vê-lo esticadinho no chão da sala espetado nas placas de E.V.A me deu uma sensação muito boa!
Apesar dos nós eu gostei muito do fio, do seu caimento, do tato, é fresco!
Tricotar esse xale foi uma delícia!
Receita: Dorothy de Mawelucky/Jane Araújo
Fio: Coats Corrente Esterlina 5
Composição: 100% algodão mercerizado
Agulhas: circular número 3,5mm de 1 metro de comprimento
Veja este projeto no Ravelry
