irmandade dos xales

Ainda me lembro do quanto estava animada para começar a tecer esses dois “xales irmãos” para presentear minhas lindas enteadas! Foi assim que passei quinze meses felizes tecendo uma única receita.

Tricô em Prosa - Xales

Tempos tão diferentes desse “agora” em que estamos vivendo dores inimagináveis.
E como dói.

Normalmente essa receita seria tricotada em poucas semanas. E de fato, o xale que tricotei como teste, enquanto passava Natal e Ano Novo na casa de meus pais, ficou pronto em menos de um mês.

Foi nessa ocasião que entrei em uma loja de armarinhos, abarrotada de fios do piso ao teto, e perguntei à vendedora se tinha o fio Tropfil da Pingouin. Na mesma hora em que ela respondeu que não, eu fixei os olhos no alto de uma prateleira e vi dezenas de bolas desse fio em cores que nunca encontrei na cidade onde moro. Segundo a vendedora, que é coreana, ela achava que o nome do fio era “Tropical” e por isso respondeu que não tinha. Nesse dia eu comprei os fios dos xales das minhas enteadas (e de outros xales mais).

Tricô em Prosa - Xale Nymphalidea

Antes de iniciar as peças eu sabia que o xale da Inácia deveria ter a cor magenta e o da Naiara deveria ter roxo. Mas eu amei tanto a cor roxa que decidi que seria a cor dos filetes da asa de borboleta dos dois xales. Desse modo, metade da bola de fio roxo seria usada em cada um dos xales, e por compartilhar do fio roxo eu passei a chamá-los de “xales irmãos”.

Como disse antes, teci essa receita pela primeira vez em três semanas. Mas, pelos mais variados motivos, o xale da Inácia levou oito meses para ficar pronto e o xale da Naiara demorou outros sete meses para ser concluído.

Tricô em Prosa - Xale Nymphalidea

Inicialmente, a intenção era tecer os dois xales com cores distintas, mas de mesmo tamanho. Entretanto, não foi isso que aconteceu. Um pequeno detalhe na maneira de tecer os filetes da asa fizeram os xales ficarem de tamanhos diferentes.

Xale magenta + roxo
Para tecer o xale da Inácia eu montei 18 pontos (e não os 12 pontos que pede a receita).
Segui o esquema abaixo para dar forma ao xale:

Filete + Fatia A
Filete + Fatia B
Filete + Fatia C
Filete + Fatia D 10 vezes – 9 laçadas
Filete + Fatia E 10 vezes – 11 laçadas
Filete + Fatia F 8 vezes – 13 laçadas e 4 carreiras encurtadas
Filete + Fatia F 3 vezes – 13 laçadas e 5 carreiras encurtadas
Filete + Fatia G 2 vezes – 15 laçadas e 5 carreiras encurtadas

Tricô em Prosa - Xale Nymphalidea

No xale da Inácia, os filetes foram tecidos sem executar as laçadas propostas na receita original.

Quando a bola do fio roxo pesou 49 gramas eu arrematei usando o arremate em i-cord.
Peso final da peça: 85 gramas.

Xale turquesa + roxo
Para o xale da Naiara montei os mesmos 18 pontos e segui o esquema do xale da Inácia descrito acima.
Por puro esquecimento, ao tecer os filetes segui as instruções originais da receita, trabalhando as laçadas.

Tricô em Prosa - Xale Nymphalidea

Quando notei essa diferença na maneira de tecer os filetes, já era tarde demais. O resultado é que ambos os xales têm o mesmo número de filetes roxos, mas o xale turquesa + roxo ficou com a “abertura da asa” maior.
Peso final da peça: 105 gramas

Sobre a receita
Atribuo o fato de não ter sentindo tédio algum ao tecer uma mesma receita três vezes consecutivas aos seguintes fatores:

  • Renda – renda nunca é entediante
  • Trabalhar com duas cores requer disciplina para não terminar com os fios embaralhados. No meu caso, eu me sento e coloco uma bola de fio do lado direito e outra do lado esquerdo. Além disso tomo cuidado para não girar a peça 360 graus ao terminar as carreiras. Giro a peça para um lado ao terminar uma carreira e na próxima carreira vou girar a peça para o lado oposto.
  • As carreiras encurtadas são executadas em momentos diferentes na mesma fatia – requer constante contagem de repetições

Longe de sentir tédio, o sentimento preponderante é de concentração com algumas pitadas de tensão. É quase como meditar, uma vez que temos de nos manter concentrados numa única atividade, que é  tecer e contar as repetições.

Mas sem dúvida, o sentimento mais gostoso vem ao terminar o xale, lavar e modelar para então, finalmente, se enrolar nele!

Receita: Xale Nymphalidea de Melinda VerMeer
Fio: Pingouin Tropfil nas cores 452 Europa (roxo); 4355 Magenta; 1508 Cancun (turquesa)
Composição: 100% algodão;
Agulha: circular número 3,5mm de 1 metro de comprimento

Veja o xale da Inácia no Ravelry
Veja o xale da Naiara no Ravelry

ensaio de renda

Sim, de uns anos para cá tenho tricotado muito pouco. Estou sempre pensando no assunto, imagino receitas, algumas vezes procuro por pontos, mas na maioria das vezes o ato de tricotar fica no plano do futuro. Mas não estou parada.

E nas raras ocasiões em que termino alguma peça, demoro meses para publicar. É exatamente o caso desse xale, iniciado em meados de dezembro do ano passado e finalizado semanas depois, no final daquele mês.

Blog Tricô em Prosa - Xale Nymphalidea

Queria tricotar uma peça despretensiosa e que tornasse um pouco mais colorido o meu guarda-roupa tão cheio de peças pretas. Procurei uma receita de xale que pudesse ser usado como uma echarpe, ou até mesmo como um cachecol.

Encontrei essa receita de xale, que é tecida usando duas cores de fio.

O xale imita uma asa de borboleta: os filetes sólidos se alternam com as fatias que apresentam uma renda apenas um uma das extremidades. A renda é trabalhada em carreiras encurtadas, o que dá o formato de asa à peça.

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Minha intenção era usar apenas restos de fios de outros projetos. Escolhi usar os restos do fio vermelho que sobrou desse xale. Mas terminei comprando uma bola de fio laranja para compor. Os filetes seriam tecidos na cor vermelha e a cor principal das fatias seria laranja.

A receita original é simples: tecer 1 filete, fatia A, filete, fatia B, filete, fatia C, e então repetir a sequência [filete, fatia D] 28 vezes.

Pesquisando um pouco mais no Ravelry encontrei essa versão modificada da receita original, que deu ao xale um formato de lua crescente. Resolvi adotar as mudanças que a tricoteira fez para tecer o filete. Segundo suas anotações, a partir da décima oitava repetição da fatia D, usar as instruções abaixo para tecer o filete:

Linha 1: 2t, 2pjt, tricô até o final (instrução original: toda a carreira em tricô)
Linha 2: 2t, laçada, ponto tricô até o final (1 ponto aumentado)
Linha 3: 2m, 2pjm, meia até o final (instrução original: toda a carreira em meia)
Linha 4: 2m, laçada, meia até o final (1 ponto aumentado)

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Navegando no Ravelry também encontrei essa peça aqui. E também terminei mesclando as modificações dessa peça na minha versão de xale. Daí que a primeira versão do xale que teci teve a seguinte sequência:

filete + fatia A
filete + fatia B
filete + fatia C
[filete + fatia D] 14 vezes
[filete + fatia E] 8 vezes
[filete + fatia F] 5 vezes
[filete + fatia G] 2 vezes

A receita original não faz menção nenhuma às fatias E, F e G. Mas seguindo a lógica das fatias A, B, C e D, é fácil deduzir suas instruções.

E já que estou falando de modificações, não posso deixar de mencionar esse xale cujo formato ficou parecido com o de uma pincelada. Clicando na primeira fotografia da página, podemos ver a peça inteira. Tão belo!

Blog Tricô em Prosa - Xale Nymphalidea

Arrematei os pontos do xale em i-cord, mas antes de cortar a ponta do fio vermelho, ainda com a tesoura na mão, notei que tinha sobrado tão pouco fio que não daria para fazer nada com ele. Tive uma ideia maligna! Por que não continuar tecendo o xale até consumir todo o fio vermelho? Deixei a tesoura de lado e resolvi continuar tecendo até consumir o máximo de fio.

O que fiz foi desmanchar todo o arremate, desmanchar as duas fatias G e também o filete que antecedia essas fatias. A partir desse ponto continuei a tricotar o xale. Assim pude acrescentar mais fatias F e mais fatias G. Só parei quando achei que ainda tinha fio suficiente para arrematar.

Para consumir todo o fio vermelho, o xale acabou sendo tecido com a sequência abaixo:

filete + fatia A
filete + fatia B
filete + fatia C
[filete + fatias D] 14 vezes
[filete + fatias E] 8 vezes
[filete + fatias F] 8 vezes
[filete + fatias G] 4 vezes

Blog Tricô em Prosa - Xale Nymphalidea

Quando tricoto usando duas cores de fio, tenho por hábito me sentar e colocar o novelo de uma cor do lado direito e o outro novelo do lado esquerdo. Faço isso por precaução pois é muito fácil embaraçar os fios enquanto tricotamos.

Outro cuidado que tomo: se no final da carreira eu virar a peça para a direita, na próxima carreira, ao alcançar o final da carreira, vou virar a peça para a esquerda. Alterno o sentido no final da carreira, evitando dar um giro completo de 360 graus na peça. Fazendo assim, mantenho um mínimo de sanidade mental.

Blog Tricô em Prosa - Xale Nymphalidea

As dimensões da peça antes de molhar (foto acima) foram de 116 centímetros de largura e 31 centímetros de altura.

Depois que a peça foi deixada de molho e gentilmente modelada sob uma superfície plana, suas dimensões mudaram para 134 centímetros de largura e os mesmos 31 centímetros de altura (na parte mais alta do xale), medidos depois que a peça secou completamente.

Gostei tanto de tricotar essa receita que tenho planos de fazer muitos outros xales Nymphalidea!

Receita: Xale Nymphalidea de Melinda VerMeer
Fio: Pingouin Tropfil – cor número 317 soviet e cor 2234 – Jerimum
Composição: 100% algodão
Agulha: circular número 3,5mm de 1 metro de comprimento

Veja esse xale no Ravelry

bela renda borboleta

Faz meses que terminei esse xale e, em meio a tantos afazeres, mal tive tempo para escrever sobre a delícia que foi tricotá-lo. Esse é mais um presente tecido com muito carinho, desta vez para minha cunhada Jaqueline.

blog tricô em prosa - Xale Swallowtail Crescent

Para tricotar esse xale, eu adquiri quatro bolas de um fio de excelente qualidade, que juntos somam 920 metros. Depois de pesquisar no Ravelry eu descobri que essa receita de xale mal consome 250 metros. Então, desde o princípio, minha ideia era fazê-lo maior.

De acordo com a receita, devemos mudar a numeração da agulha três vezes – coisa que eu não fiz. Usei uma só numeração do início até arrematar.

Em meados de julho dei início à peça. Montei os pontos com uma pequena modificação: a faixa da borda superior tem três pontos e não apenas dois. É uma questão de preferência pessoal, mesmo.

blog tricô em prosa - Xale Swallowtail Crescent

Gráfico A
Podemos escolher trabalhar o corpo em ponto jérsey ou trabalhar em renda desde o princípio. Para esse xale, escolhi o corpo em renda.

A cada repetição do Gráfico A, eu notei que:

    • a) Mais três marcadores são adicionados ao trabalho; e
    • b) Os marcadores da repetição anterior não se alinham com a repetição atual;

Em meados de agosto, não pude resistir e interrompi a confecção do xale para tricotar a coelhinha Matilda. Voltei a tricotar o xale só em setembro.

Para que o xale ficasse um pouco maior eu teci mais duas repetições do Gráfico A. No total foram dez repetições desse gráfico. E assim que concluí as repetições, investi alguns minutos passando uma linha de segurança.

blog tricô em prosa - Xale Swallowtail Crescent

Aumentar tamanho
Quando trabalhamos mais de oito repetições do primeiro gráfico, devemos adicionar alguns pontos extras antes de começar o Gráfico B.

A receita instrui de modo detalhado como adicionar esses pontos no lado direito do trabalho. Eu até tentei decifrar as instruções, mas então notei que a linha um e dois do gráfico são trabalhadas em ponto jérsei. Porque não acrescentar os aumentos ali mesmo?

Fiz os aumentos no lado avesso, sem nenhuma laçada, apenas levantando a alça do ponto da carreira anterior e trabalhando um ponto tricô na alça levantada. No meu caso, como foram dez repetições do Gráfico A, tive de fazer quatro aumentos. Fiz dois aumentos antes do ponto central e dois aumentos depois. Simples e sem complicação.

Tudo pronto para começar o gráfico B.

blog tricô em prosa - Xale Swallowtail Crescent

Gráfico B
Como tinha fio de sobra, eu trabalhei o Gráfico B com uma pequena modificação: fiz os nupps com nove voltas, e não com cinco. Gostei muito mais assim, que eles ficaram mais definidos. Gosto de fazer os nupps usando uma agulha de crochê.

Bem, enquanto tecia a linha sete do Gráfico B, perdi um ponto ao fazer uma diminuição dupla centralizada que não consegui recuperar. A renda se desfez toda. Se não tivesse passado o bendito fio de segurança ao concluir o Gráfico A, o resultado teria sido catastrófico. Valeu a pena tomar um tempo para passar esse fio da salvação!

Em meados de setembro eu terminei o Gráfico B e iniciei o Gráfico C.

blog tricô em prosa - Xale Swallowtail Crescent

Gráfico C
Sobre o gráfico C, duas considerações:

    • a) Nas linhas 11 e 13 do gráfico C os marcadores de ponto se deslocam um ponto para a direita; e
    • b) Na linha 16 (avesso) do Gráfico C os marcadores se deslocam um ponto para a esquerda;

Acabamento
Quando terminei o Gráfico C eu tinha 371 pontos na agulha para arrematar. A receita oferece duas opções de arremate: a) fazer o arremate do barrado com picot ou fazer um arremate comum. Escolhi arrematar fazendo picot, já que tinha bastante fio disponível.

Depois de pronto, o xale pesou 105 gramas e consumiu aproximadamente 457 metros de fio.

blog tricô em prosa - Xale Swallowtail Crescent

Ao final de setembro, o xale estava lavado, modelado e seco. Prontinho para ir morar na casa de sua dona.

É uma receita muito gostosa de tecer, com repetições curtas, fáceis de memorizar.

Receita: Swallowtail Shawl de Evelyn A. Clark – versão lua crescente
Fio: Coats Corrente Esterlina 8 – cor 0000 (preto)
Composição: 100% algodão egípcio
Agulha: circular número 3,50 mm

Veja esse xale no Ravelry

bela ave de Gamayun

Ah, como não se apaixonar por essas rendas? Esse xale é um presente para a deslumbrante Janete, minha cunhada, que está toda radiante usando a peça na fotografia abaixo.
Tricô em Prosa - Xale Gamayun Bird

A vontade de tricotar esse xale foi a força motriz para terminar aquele infindável casaco.

Fazia tanto tempo que eu não tricotava renda, que acho até que havia desaprendido! Tricotar renda não é difícil, mas exige um pouquinho de concentração para não se perder na sequência de pontos que devem ser executados. Aliás, exige concentração e muuuitos marcadores de pontos!

Tricô em Prosa - Xale Gamayun Bird

O xale é tricotado de baixo para cima. Usando agulhas número 7mm, montei frouxamente os vários pontos do barrado desse xale no final de abril e comecei a tricotar o “Gráfico 1 – Barrado” usando agulha número 3,50mm.

Esse gráfico é tão longo que ele foi dividido em três páginas: parte direita, central e parte esquerda. Com tantos pontos assim, nem precisa dizer que contar pontos nessa fase é mais que essencial. E ainda acrescentei o ritual de contar a quantidade de pontos de cada linha e deixar anotado em cada página do gráfico (parte direita, central e esquerda).

Tricô em Prosa - Xale Gamayun Bird

Tanto contar pontos, de maneira até obsessiva, não me impediu de cometer vários erros. Uma distração, menor que fosse, e o erro escapulia! Passei a contar os pontos das repetições abrindo-os bem, para identificar as laçadas dos demais pontos, porque cismei que não estava ‘enxergando’ as laçadas direito.

Fiquei assustada com o fato de que, mesmo tendo tanto cuidado, alguns erros não puderam ser evitados. O importante é que cada um dos erros que cometi foi corrigido.

Tricô em Prosa - Xale Gamayun Bird

Fiz algumas anotações enquanto tecia os demais gráficos da receita:

  • Ao terminar o “Gráfico 1 – Barrado” e iniciar a primeira linha do Gráfico 2 (a linha 33), os marcadores de pontos se deslocam um ponto à direita de onde estão.
  • Ao tricotar a primeira linha do Gráfico 3, o primeiro e o último marcador serão removidos. Os demais marcadores permanecem no mesmo local.
  • Não fiz nenhuma anotação para o Gráfico 4, com certeza me esqueci.
  • Apenas na linha 119 do Gráfico 5 todos os marcadores movem um ponto para a direita até alcançar a ponto central e um ponto para a esquerda depois dele.

Tricô em Prosa - Xale Gamayun Bird

Acabamento
Para o arremate com agulha de crochê, fiz seis correntinhas no lugar de cinco.

Na fotografia abaixo podemos ver o xale assim que sai das agulhas (à esquerda) e depois que foi deixado de molho, lavado e esticado com alfinetes. Não parece mágica?
Tricô em Prosa - Xale Gamayun Bird

O xale pesa 135 gramas, ou seja, consumiu aproximadamente 610 metros de fio.

A verdade é que eu estava com saudade de tricotar renda e amei tricotar essa receita! E olha só que inspiração é essa versão tecida com fio branco! Suspiros…

Tricô em Prosa - Xale Gamayun Bird

Receita: Gamayun Bird de Natalia Sha
*veja como baixar a tradução para o português diretamente do Ravelry
Composição: 100% algodão
Fio: Fios Pingouin Tropfil na cor 5513 – Ravenna
Agulha: circular número 3,5mm

Veja esse xale no Ravelry

da cor do chocolate

A ideia era tricotar um casaco leve, de algodão, para me proteger do friozinho do ar-condicionado. E a cada dia e noite mais frios, crescia a vontade de tecer tal casaco. Encontrei a receita ideal, um modelo clássico do qual eu nunca me cansaria de usar.

blog Tricô em Prosa - da cor do chocolate - Cardigã Amiga

Ao estudar a receita pude identificar alguns “pontos de interesse”:
1) O fio que eu ia usar era mais fino que o indicado na receita;
2) A ideia de levantar pontos ao longo da borda para tricotar a gola da peça não me agradava. Eu queria tricotar a gola enquanto tecia a peça;
3) Queria um ponto diferente na gola;

Bem, este é o relato de como adaptei a receita para tricotar com uma amostra diferente.

Antes de mais nada, teci um quadrado de amostra no ponto jérsei (meia no direito, tricô no avesso) que lavei e deixei secar sem esticar com alfinetes porque é assim que vou lavar e secar o cardigã depois de pronto.

Amostra da receita em ponto jérsei:
17 pontos medem 10 cm, ou seja, 1 ponto mede 0,588 cm

Minha amostra em ponto jérsei:
23 pontos e 38 carreiras correspondem à um quadrado de 10 cm, ou seja, um quadrado de 1 cm tem 2,3 pontos e 3,8 carreiras.

Segundo a receita original, para tecer o tamanho médio eu deveria montar 44 pontos. Ao converter para centímetros temos: 44 pontos * 0,588 cm = 26 cm. Para obter 26 cm com a minha própria amostra, eu preciso montar 60 pontos, já que 26 cm * 2,3 pontos são 59,8 pontos, o que arredondei para 60 pontos.

Gola
Meados de agosto de 2017, escolhi o ponto da gola .Pelos meus cálculos, a gola da receita original mede aproximadamente 13 centímetros de largura. Tive de alterar o ponto que escolhi para que ficasse um pouco mais largo que o original. Ao aumentar a quantidade de pontos da repetição de 13 para 14, consequentemente a quantidade de carreiras passou de 20 para 24.
blog Tricô em Prosa - da cor do chocolate - ponto da gola do Cardigã Amiga

Os quadrados com X no gráfico acima delimitam a seção de cordões de tricô na extremidade da gola. Eu providenciei dois gráficos, um para a faixa esquerda e outro para a faixa direita, com os cordões de tricô em lados opostos.

Para não levantar os pontos da gola depois de terminar a peça, eu segui a sugestão dessa tricoteira. Ela usou a montagem provisória para tecer a gola em ambas as direções. Na fotografia abaixo podemos ver o fio provisório “ancorando” os pontos do início da montagem.

Fiz o seguinte: montei os 30 pontos usando montagem provisória e trabalhei 57 carreiras da gola, sempre passando o primeiro ponto sem fazer. Não trabalhei os pontos do avesso na última carreira. Ao terminar, havia 28 pontos passados sem fazer na lateral da faixa. Transferi os pontos para uma agulha circular qualquer porque eu iria retomar esses pontos mais tarde. Cortei o fio deixando uma ponta de uns 20 cm. Removi o fio provisório que ancorava os pontos do início da montagem e trabalhei outras 57 carreiras na direção oposta, desta vez começando pela linha 13 do gráfico da gola para alinhar o desenho.

Assim, eu obtive uma faixa da gola com pontos vivos em ambas as extremidades, como mostra a fotografia abaixo. Essa fotografia foi tirada antes de levantar os pontos e posicionar os marcadores para iniciar a pala do suéter.

Virei a peça para trabalhar a carreira 58 do ponto da gola, que corresponde ao lado avesso, trabalhado em ponto tricô. Da mesma maneira que se inicia os pontos de um xale, trabalhei os primeiros 28 pontos do gráfico da gola, coloquei um marcador, 2t, coloquei um marcador, sem virar o trabalho, levantei 9 pontos na lateral da faixa (um ponto levantado em cada ponto passado sem fazer), coloquei um marcador, levantei mais 38 pontos, coloquei um marcador, levantei 9 pontos, coloquei um marcador, 2t, coloquei um marcador, e continuei tricotando os demais 28 pontos da segunda extremidade da gola.

Na agulha tenho: 28 pontos da gola + 60 pontos que deveria montar para o cardigã + 28 pontos da gola. Detalhando um pouco mais: são 28 pontos da gola direita, 2 pontos da frente direita do cardigã, 9 pontos da manga direita, 38 pontos das costas, 9 pontos da manga esquerda, 2 pontos da frente esquerda mais os 28 pontos da gola esquerda.

blog Tricô em Prosa - da cor do chocolate - Cardigã Amiga

Pala
A receita original pede que os aumentos das mangas raglãs sejam trabalhados até que haja 252 pontos na agulha, ou 252 * 0,588 = 148 cm. Para obter essa medida com a minha amostra, devo trabalhar os aumentos até que existam 340 pontos (148 cm * 2,3 = 340 pontos), isso sem contar os pontos da gola.

Em meados de setembro de 2017, quando terminei a pala, imediatamente comecei a trabalhar as mangas. Resolvi deixar o corpo do casaco para o final.

Mangas
Eu deveria trabalhar as diminuições da manga de maneira que, ao concluir, a circunferência da barra medisse 25 cm. Convertendo centímetros para pontos temos que 25 cm * 2,3 pontos = 57,5 pontos, que arredondei para 57 pontos.

As mangas têm altura de 37 cm, ou seja, 37 cm * 3,8 carreiras = 140,6 carreiras.

Cada manga inicia com 85 pontos, que devem ser diminuídos para 57 pontos. Ou seja, são 28 pontos diminuídos ao longo de 140 carreiras. Em cada volta de diminuição, duas diminuições são trabalhadas, então esses 28 pontos serão diminuídos em 14 voltas de diminuição.

Trabalhei cinco voltas em meia antes de iniciar as diminuições para a manga da seguinte maneira: * uma volta de diminuição, nove voltas em meia; repetir a partir de * até obter 59 pontos nas agulhas.

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Finalizei as mangas fazendo oito voltas em cordões de tricô e arrematei usando o método de arremate costurado da Elizabeth Zimmermann.

Corpo
Depois que terminei as duas mangas, retomei os pontos do casaco para terminar o corpo. Trabalhei duas pences laterais nas costas para acinturar. As diminuições iniciaram abaixo da altura do busto e prosseguiram por 24 carreiras. Já na altura do quadril, eu comecei a trabalhar os aumentos também por 24 carreiras.

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Quando alcancei a altura desejada para o corpo do casaco, havia muitos pontos para arrematar, então escolhi fazer o Arremate Surpreendentemente Elástico de Jenny porque não precisa cortar o fio deixando uma ponta imensa. Eram tantos pontos na barra do casaco que demorei mais de três horas para concluir o arremate.

Acabamento
Com muito trabalho, inclusive nos fins de semana, mal encontrei tempo para embutir os muitos fios que restaram na peça. Tentei fazê-lo várias noites enquanto “ouvia” o noticiário na tevê, algo que faço sempre. Mas a cor da peça e a iluminação artificial tornaram impossível ver com clareza o desenho da trama e eu não conseguia decidir por onde passar a agulha. Frustrante.

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Na primeira oportunidade que se apresentou, semanas mais tarde, passei toda uma tarde de domingo sob a notável iluminação natural de uma janela e embutir os fios foi um trabalho fácil e até mesmo prazeroso. Ufa! Foram oito meses tricotando essa peça.

Outra coisa: quando teci meus primeiros casaquinhos de bebê, notei uma diferença na tensão dos pontos das mangas em relação aos pontos do restante do casaco que era tricotado frente e verso, virando o trabalho no fim da carreira. Os pontos das mangas, trabalhados circularmente, sempre ficam visivelmente mais fechados que os pontos das costas, por exemplo. Para que isso não acontecesse nesse suéter, trabalhei todas as carreiras do lado direito com agulha número 3,50 mm e todas as carreiras do avesso com agulha número 3,00 mm, quando o trabalho não era circular.

Agora, casaco lavado e cheiroso, quando o visto, o sentimento é de alegria, satisfação e que conforto!

Receita: Amiga de Mags Kandis
Composição: 100% algodão
Fio: Círculo Anne 500 – cor 7382
Agulha: circular número 3,50 mm e 3,00 mm

Veja esse cardigã no Ravelry