delicinha de casaquinho de vovô

Faz pouco mais de dois anos que tricotei esse casaquinho. Faz tanto tempo que mal consigo me lembrar de como foi o processo de tricotá-lo.

Cardigã Gramps

Normalmente eu faço várias anotações – anoto os erros que cometi, como foram corrigidos, tudo que acho que será útil relembrar caso eu decida tecer a mesma receita de novo. Mas, para minha surpresa, dessa vez encontrei umas poucas linhas.

Nem mesmo pesei o casaquinho depois de pronto. Isso me leva a pensar em como estava o meu emocional naquela ocasião. Eu estava em luto. E tem coisa mais reconfortante que tricotar casaquinhos de bebê?

Eu me lembro muito bem de como foi gostoso tecer essa receita novamente e de como eu ficava feliz imaginando o fofo do João Lucas vestindo essa peça que eu mesma teci.

Tricô em Prosa - Cardigã Gramps

Das anotações que fiz eu posso afirmar que montei os pontos da amostra em um tarde de domingo usando agulhas número 4 mm. Como o casaquinho é tricotado aberto, ou seja, virando o trabalho ao terminar a carreira, eu teci a amostra desse jeito também. Um dia depois, lavei a amostra e aguardei até que secasse. Na noite da quarta-feira seguinte, eu montei os pontos do casaquinho. Escolhi o tamanho de um ano – idade que o João Lucas teria quando os termômetros voltassem a cair no ano seguinte.

Para tecer as mangas circularmente eu mudei para a numeração das agulhas para 4,5 mm porque se mantivesse a mesma numeração que usei para tricotar ida e volta, a tensão ficaria visivelmente diferente, com pontos mais apertados. Para tecer as mangas usei um conjunto de cinco agulhas de ponta dupla.

Tricô em Prosa - Cardigã Gramps

A certa altura não podia mais ignorar a minha intuição avisando: “as mangas vão ficar muito justas”. Finalmente pude me certificar de que, sim, as mangas ficariam mais confortáveis se fossem mais largas. Resumindo: refiz as mangas montando mais pontos do que indicava a receita.

Pelas anotações que fiz eu terminei a peça um mês depois de montar os pontos. Pesando os restos de fio que sobraram, pude deduzir que o casaquinho consumiu 315 metros.

Receita: Gramps Cardigan de Kate Oates (também pode ser comprada no Ravelry)
Fio: Círculo Lírio – Cor 7417 Banana
Composição: 50% Merino, 50% Microfibra
Agulhas: Circular número 4.0 mm de 1 metro de comprimento + Conjunto de 5 agulhas de pontas duplas número 4.5 mm

Veja esse projeto no Ravelry

cinza como um dia de chuva

Adoro dias de chuva. Gosto de ouvir a chuva, gosto de ouvir trovões. O clima fica ameno, algo raro na região onde moro. É um presente e uma alegria!

Quando teci o protótipo da versão larga do gorro Amanara, aquele de cor roxa, eu usei agulhas maiores e também montei menos pontos. Ainda faltava tricotar a versão larga dessa receita sem fazer nenhuma modificação.

tricô em prosa - cinza como um dia de chuva - Gorro Amanara

Amanara significa dia de chuva na língua indígena. Então para tecer esse gorro eu escolhi um tom de cinza bem clarinho, que bem lembra um dia chuvoso.

Foi muito rápido tricotá-lo!

tricô em prosa - cinza como um dia de chuva - Gorro Amanara

Ainda aproveitei uma tarde de sábado para fotografar um tutorial sobre como fazer trança sem agulha auxiliar usando as tranças dessa receita.

tricô em prosa - cinza como um dia de chuva - Gorro Amanara

Eu ainda quero tricotar um montão de gorros e sair presenteando entre amigos e família. Vamos ver se vai rolar porque no momento estou morrendo de vontade de montar os pontos de um xale!

Receita: Gorro Amanara de Valéria Garcia
Fio: Cisne Cetim – cor 879 (cinza claro)
Composição: 30% lã, 70% acrílico
Agulha: circular número 3,5mm e 4mm

Veja esse gorro no Ravelry

variações sobre um mesmo gorro

Passei pouco mais de um mês me divertindo a beça tricotando esses gorros. Eu me encantei com um ponto que encontrei no Pinterest, decifrei seu gráfico e comecei a brincar.

tricô em prosa - Gorro Amanara

Cada um dos gorros foi completamente desmanchado depois de pronto pelo menos uma vez. O roxo foi desmanchado duas vezes. Isso sem contar as inúmeras diminuições para fechar o topo do gorro iam surgindo a cada versão.

No início de agosto eu peguei restos de um fio azul marinho que sobrou de um casaquinho de bebê e montei os pontos da primeira versão. Montei 96 pontos. Usei agulhas número 3,5mm para a barra e agulhas número 4mm para o corpo do gorro.

blog Tricô em Prosa - Gorro Amanara Adulto Justo

Foram três tentativas para fazer as diminuições do topo do gorro. O topo ficou legal, mas o gorro ficou muito apertado na barra. Desmanchei tudo e imediatamente montei os pontos para tricotá-lo de novo, dessa vez usando 120 pontos.

É a segunda versão do gorro azul marinho que está sendo exibido nas fotografias. Em breve será presenteado.

Bem, a essa altura já estava apaixonada pelo ponto. Comecei a vislumbrar uma maneira de transformar o gorro em boina. Rascunhei a transição dos pontos da barra para o corpo posicionando os aumentos de modo que ficassem mais ou menos camuflados. Ou assim eu imaginei.

tricô em prosa - Gorro Amanara Adulto Largo

Na versão boina, o fio roxo que usei também são restos de outro casaquinho de bebê.

Mais ou menos na metade da boina, pouco antes de iniciar as diminuições para o topo, uma transição bem mais “elegante” da barra para o corpo surgiu do nada. Redesenhei a nova transição, desmanchei tudo com exceção da barra e então recomecei. Realmente, ficou muito mais “elegante”. Por enquanto, esse gorro vai ser meu companheiro.

Finalmente, morrendo de curiosidade, resolvi tecer outro gorro na versão justa, aumentando um pouco a numeração das agulhas. Usei agulhas 4mm para a barra e agulhas 4,5mm para restante do gorro. Montei 96 pontos. Terminei e fui experimentar. Ficou longo, mas assim, muito longo… e rígido. Mais parecia que eu estava usando um cone de tricô na minha cabeça! Não!

blog Tricô em Prosa - Gorro Amanara Adulto Justo

Desmanchei todo o gorro e refiz usando agulhas número 3,5mm para a barra e 4mm para o corpo. Só que dessa vez eu montei 108 pontos.

Elaborei outra diminuição para o topo do gorro. De todas as diminuições para o topo, essa última foi a que mais gostei. Antes de molhar, o gorro servia direitinho. Depois que lavei ele cresceu um pouco, mas ficou engraçadinho. Decidi mantê-lo como está.
Esse gorro não será meu companheiro, vai ser presenteado em breve.

Eu escrevi a receita do gorro, caso queiram se aventurar. É uma peça bem rápida de se fazer. E para fazer as tranças sem usar agulha auxiliar, o que torna o processo muito mais rápido, leia esse tutorial.

Receita: Gorro Amanara de Valéria Garcia
Fio: Cisne Cetim e Lã Seda da Círculo
Composição: 70% acrílico, 30% lã
Agulha: circular número 3,5mm e 4,0mm de 60 centímetros de comprimento

Veja o gorro Amanara azul marinho no Ravelry
Veja o gorro Amanara roxo no Ravelry
Veja o gorro Amanara cinza no Ravelry

minhas meias da Meida

Essas meias andaram muito tempo dentro da minha bolsa. Enquanto tecia esse xale sempre que me encontrava em casa, senti falta de ter uma peça na minha bolsa para eu poder tricotar quando estivesse fora. E não tem peça melhor para levar na bolsa do que meias.

tricô em prosa - minhas meias da Meida

Eu ganhei esse fio de presente da Marico alguns anos atrás. Adoro a cor! Ele tem um porcentual de nylon na sua composição, importante no caso das meias porque aumenta a durabilidade. Além disso, ele vem com um carretel de fio 100% nylon que usei junto com o fio ao tricotar o calcanhar e os dedos da meia para reforçar essas partes que são mais propensas à formar buracos devido à fricção.

Para honrar o fio, escolhi uma receita bem bonita da Nancy Bush. Essa receita faz parte do livro Favorite Socks. A Nancy Bush conta que ganhou essas meias de presente de sua amiga Meida quando visitou a Estônia pela primeira vez e então as reproduziu.

tricô em prosa - Meias da Meida

O comprimento da perna foi a única modificação que fiz.

Eu queria tornar a perna mais longa. Pelo fato das tranças não serem tão elásticas, eu montei os pontos usando agulha de numeração 2,75mm. Com essa numeração eu teci sete repetições do gráfico.

Depois mudei para agulhas número 2,50mm e teci mais três repetições antes de iniciar o calcanhar. Assim, a circunferência da meia acompanhou a da perna, o que faz com que as meias não escorreguem. No total foram dez repetições do gráfico antes do calcanhar. A receita original pedia seis repetições.

tricô em prosa - Meias da Meida

Esse é um ponto muito fácil de memorizar, uma delícia de fazer. Uma novidade para mim foi a trança estoniana, feita de uma maneira um pouquinho diferente.

O calcanhar foi trabalhado em ponto de alvéolo, com pontos passados sem fazer, o que torna a trama bem resistente, perfeita para essa parte da meia. Foi a primeira vez que trabalhei esse ponto no calcanhar. Os alvéolos não ficaram tão visíveis, acredito eu, porque o calcanhar foi trabalhado com fio duplo.

Olha, com o calor que anda fazendo, com certeza muitas meias ainda virão!

Também gostaria de falar do 3° Encontro Gaúcho de Tricô. Serão ministradas diversas oficinas legais, vai ter concurso, passeios e outras diversões. Eu vou ministrar duas oficinas, uma sobre meias e outra sobre xales. Nos vemos por lá?

Receita: Meida’s Socks de Nancy Bush
Fio: Lang Yarns Jawoll Superwash Solids na cor vinho
Composição: 75% lã, 18% nylon, 7% acrílico
Agulha: circular na numeração 2,75mm e 2,50mm de 1 metro de comprimento

Veja esse projeto no Ravelry

cardigã do vovô para o bebê

Eu estava morrendo de vontade de tricotar um casaquinho bem charmoso para manter o Joaquim quentinho e protegido, ele que é o bebê mais feliz e sorridente que já conheci. A receita estava guardadinha para ele, comprada há mais de um ano.

O casaquinho foi tecido com muito zelo. Algumas etapas foram rápidas, outras eu tive de refazer. O mais importante: ficou do jeito que eu queria e isso vale muito a pena.

blog tricô em prosa - cardigã do vovô - Cardigã Gramps

Ele é trabalhado sem costuras de baixo para cima. Montam-se os pontos da barra do casaco e tricota-se da barra até a cava das mangas. As mangas são tecidas separadas e depois são unidas ao corpo do casaco. Tricota-se a pala ao mesmo tempo que fazemos as diminuições das mangas raglã. Por último, levantamos os pontos da gola e da tira de abotoamento do casaco. Sem nenhuma costura, com exceção de uma dúzia de pontos em cada cava do braço.

a amostra

Minha primeira providência foi tricotar uma amostra para substituir o fio indicado na receita. Teci a primeira amostra no dia dos namorados, ou no dia da abertura da Copa do Mundo, durante o jogo do Brasil contra a Croácia. Nem cheguei a medir visto que a trama ficou frouxa demais. Usando agulhas menores, teci a segunda amostra que molhei, esperei secar e só então medi: certíssimo.

Decidi fazer o tamanho indicado para quatro anos para o Joaquim que completará dois anos em outubro, porque a modelagem do casaco é justa.

Montei os pontos da barra e rapidamente iniciei para as tranças. Que delícia de receita. Quando a peça media 21 centímetros, era hora de iniciar a modelagem do decote em V.

blog tricô em prosa - cardigã do vovô - Cardigã Gramps

Nesse ponto eu tive de parar para estudar em que ponto iniciaria as diminuições do decote de maneira que as tranças resistissem por mais tempo.

A receita trazia poucas instruções nesse sentido. Na descrição da receita no Ravelry, encontrei o link para uma publicação onde a designer explica que não faria sentido colocar as instruções detalhadas para cada tamanho. E ela tem razão. Ela deu uma dica de rearranjar os pontos trançados na agulha antes de fazer as diminuições do decote. Funcionou muito bem.

blog tricô em prosa - cardigã do vovô - Cardigã Gramps

Eu desenhei um gráfico com lápis e borracha para auxiliar. Nele desenhei as tranças, enumerei as carreiras e comecei a delinear onde seriam as diminuições do decote e até as da manga raglã, que iniciariam em poucas carreiras. Pude ver como eu trabalharia toda a pala. Foi bom investir tempo nesse gráfico porque me deu confiança e me mostrou que as tranças durariam um pouquinho mais se eu iniciasse o decote na carreira anterior à que eu estava.

mangas e pala

Os pontos das mangas foram montados num sábado, dia do jogo do Brasil contra Chile.

Muita gente no Ravelry reclamou que as mangas ficavam muito justas. Por precaução eu montei quatro pontos a mais. Teci metade da manga recusando-me a admitir que ela ainda estava muito justa. Finalmente desmanchei e montei oito pontos a mais que a quantidade pedida na receita.

Com a possibilidade de passar sete horas de viagem no banco do passageiro, preparei minha bolsa de tricô. Levei a manga iniciada, o corpo do casaco, tesoura, um novelo a mais, marcadores de pontos, agulha de tapeçaria e restinhos de fios. Até o gráfico com as diminuições do decote eu levei.

blog tricô em prosa - cardigã do vovô - Cardigã Gramps

Minha intenção era retornar da viagem de quatro dias com as mangas tecidas e unidas ao corpo do cardigã. A realidade foi bem diferente: durante a ida eu terminei a primeira manga e durante o retorno concluí a segunda.

De volta à casa, uni as mangas ao corpo e finalizei a pala em poucos dias. Aos poucos, os pontos diminuídos do decote V e das mangas raglã consumiam as tranças da pala, como era de se esperar. A aparência da pala ficou bem natural.

a tira de abotoamento e a gola

Os pontos da tira de abotoamento são levantados ao longo da frente direita do casaco, continua nos pontos “vivos” (não foram arrematados) da gola e são seguidos de pontos levantados na frente esquerda do casaco. Um total de 202 pontos levantados, que devemos tricotar aberto, virando o trabalho ao chegar no fim da carreira.

A forma arredondada da gola é obtida com carreiras encurtadas. Para trabalhar essas carreiras encurtadas eu usei essa técnica que foi compartilhada pela generosa Beatriz Medina no grupo de discussão de tricô que participo. É uma técnica espetacular: além de muito fácil, o acabamento é tão perfeito que não tem como ver onde a peça foi virada.

Eu fiz quatro casas para os botões trabalhadas numa única carreira (one row buttonhole.

não! um erro grotesco

Enquanto arrematava a gola usando o arremate surpreendentemente elástico da Jeny, pensava que seria legal escrever um passo-a-passo sobre esse arremate.

Foi nessa hora que vi um erro absurdo na parte final da pala. Eu mal acreditava nos meus olhos. Por alguma razão eu não mantive o padrão de intercalar tranças à direita com tranças à esquerda, justamente o que dá o efeito entrelaçado. Simplesmente trabalhei todas as tranças à esquerda.

blog tricô em prosa - cardigã do vovô - Cardigã Gramps

Pausa para desmanchar toda a gola e depois desmanchar toda a pala. Retornei ao ponto onde as mangas são unidas ao corpo. Decidi aproveitar para fazer duas alterações.

Primeira alteração: no quadrado da fotografia abaixo vemos uma coluna de quatro pontos meia que divide a manga raglã da pala. Vou alterar para que fique com três pontos.

blog tricô em prosa - cardigã do vovô - Cardigã Gramps

Segunda alteração: a tira de abotoamento é trabalhada em barra 2×2, iniciando e terminando com 2m. Na fotografia abaixo vemos que os primeiros 2m mais parecem 1m porque o primeiro ponto se curva para dentro. Vou iniciar e terminar com 3m, mas vou manter a barra 2×2 no restante do trabalho.

blog tricô em prosa - cardigã do vovô - Cardigã Gramps

Uma semana mais tarde, eu tinha refeito tudo!

A pala exibia as tranças nas direções certas e era separada da manga por uma coluna de três pontos. A tira de abotoamento iniciada e finalizada com 3m realmente ficou com um visual mais coerente com o restante.

blog tricô em prosa - cardigã do vovô - Cardigã Gramps

acabamento

Transferi os doze pontos da cava do braço e da manga para agulhas de pontas duplas e arrematei usando o arremate de três agulhas. Ficaram buracos enormes em cada extremidade do arremate. Desmanchei o arremate, levantei mais alguns pontos nas extremidades de cada agulha usando laçada torcida. Talvez os doze pontos iniciais de cada agulha tenham virado quatorze ou quinze. Funcionou muito bem. Ainda assim tive de fechar buraquinhos minúsculos que restaram quando fui embutir as pontas.

Escolhi botões de madeira para combinar com o casaco.

blog tricô em prosa - cardigã do vovô - Cardigã Gramps

Quando montei os pontos desse casaquinho, achei que terminaria em duas semanas. A triste verdade é que não tenho tanto tempo para tricotar. No meio da semana, só tricoto algumas noites. Nos fins-de-semana tenho mais tempo, mas nem sempre. E olha que eu tricotei esse casaquinho em todas as oportunidades que tive: levei na bolsa, levei ao clube para tricotar depois da academia, levei na viagem. Mesmo assim demorou um mês e meio para terminá-lo.

Achei uma delícia fazer essa peça. É uma receita muito bonita, nem um pouco monótona e com certeza vou tricotá-la novamente. A receita é paga, mas nem tudo é explicado. Temos de ponderar, pensar bastante no que deve ser feito. Acredito que essa receita seja mais indicada para uma tricoteira com mais experiência.

Meu marido acha que é o casaquinho mais bonito que já tricotei até hoje.
Eu acho que ele tem razão!

Receita: Cardigan Gramps de Kate Oates (pode ser comprada também no Ravelry)
Fio: Cisne Cetim – cor 04026
Composição: 70% acrílico, 30% lã
Agulhas: circulares de numeração 3,50mm e 4,00mm

Veja esse projeto no Ravelry