cardigã do vovô para o bebê

Eu estava morrendo de vontade de tricotar um casaquinho bem charmoso para manter o Joaquim quentinho e protegido, ele que é o bebê mais feliz e sorridente que já conheci. A receita estava guardadinha para ele, comprada há mais de um ano.

O casaquinho foi tecido com muito zelo. Algumas etapas foram rápidas, outras eu tive de refazer. O mais importante: ficou do jeito que eu queria e isso vale muito a pena.

blog tricô em prosa - cardigã do vovô - Cardigã Gramps

Ele é trabalhado sem costuras de baixo para cima. Montam-se os pontos da barra do casaco e tricota-se da barra até a cava das mangas. As mangas são tecidas separadas e depois são unidas ao corpo do casaco. Tricota-se a pala ao mesmo tempo que fazemos as diminuições das mangas raglã. Por último, levantamos os pontos da gola e da tira de abotoamento do casaco. Sem nenhuma costura, com exceção de uma dúzia de pontos em cada cava do braço.

a amostra

Minha primeira providência foi tricotar uma amostra para substituir o fio indicado na receita. Teci a primeira amostra no dia dos namorados, ou no dia da abertura da Copa do Mundo, durante o jogo do Brasil contra a Croácia. Nem cheguei a medir visto que a trama ficou frouxa demais. Usando agulhas menores, teci a segunda amostra que molhei, esperei secar e só então medi: certíssimo.

Decidi fazer o tamanho indicado para quatro anos para o Joaquim que completará dois anos em outubro, porque a modelagem do casaco é justa.

Montei os pontos da barra e rapidamente iniciei para as tranças. Que delícia de receita. Quando a peça media 21 centímetros, era hora de iniciar a modelagem do decote em V.

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Nesse ponto eu tive de parar para estudar em que ponto iniciaria as diminuições do decote de maneira que as tranças resistissem por mais tempo.

A receita trazia poucas instruções nesse sentido. Na descrição da receita no Ravelry, encontrei o link para uma publicação onde a designer explica que não faria sentido colocar as instruções detalhadas para cada tamanho. E ela tem razão. Ela deu uma dica de rearranjar os pontos trançados na agulha antes de fazer as diminuições do decote. Funcionou muito bem.

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Eu desenhei um gráfico com lápis e borracha para auxiliar. Nele desenhei as tranças, enumerei as carreiras e comecei a delinear onde seriam as diminuições do decote e até as da manga raglã, que iniciariam em poucas carreiras. Pude ver como eu trabalharia toda a pala. Foi bom investir tempo nesse gráfico porque me deu confiança e me mostrou que as tranças durariam um pouquinho mais se eu iniciasse o decote na carreira anterior à que eu estava.

mangas e pala

Os pontos das mangas foram montados num sábado, dia do jogo do Brasil contra Chile.

Muita gente no Ravelry reclamou que as mangas ficavam muito justas. Por precaução eu montei quatro pontos a mais. Teci metade da manga recusando-me a admitir que ela ainda estava muito justa. Finalmente desmanchei e montei oito pontos a mais que a quantidade pedida na receita.

Com a possibilidade de passar sete horas de viagem no banco do passageiro, preparei minha bolsa de tricô. Levei a manga iniciada, o corpo do casaco, tesoura, um novelo a mais, marcadores de pontos, agulha de tapeçaria e restinhos de fios. Até o gráfico com as diminuições do decote eu levei.

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Minha intenção era retornar da viagem de quatro dias com as mangas tecidas e unidas ao corpo do cardigã. A realidade foi bem diferente: durante a ida eu terminei a primeira manga e durante o retorno concluí a segunda.

De volta à casa, uni as mangas ao corpo e finalizei a pala em poucos dias. Aos poucos, os pontos diminuídos do decote V e das mangas raglã consumiam as tranças da pala, como era de se esperar. A aparência da pala ficou bem natural.

a tira de abotoamento e a gola

Os pontos da tira de abotoamento são levantados ao longo da frente direita do casaco, continua nos pontos “vivos” (não foram arrematados) da gola e são seguidos de pontos levantados na frente esquerda do casaco. Um total de 202 pontos levantados, que devemos tricotar aberto, virando o trabalho ao chegar no fim da carreira.

A forma arredondada da gola é obtida com carreiras encurtadas. Para trabalhar essas carreiras encurtadas eu usei essa técnica que foi compartilhada pela generosa Beatriz Medina no grupo de discussão de tricô que participo. É uma técnica espetacular: além de muito fácil, o acabamento é tão perfeito que não tem como ver onde a peça foi virada.

Eu fiz quatro casas para os botões trabalhadas numa única carreira (one row buttonhole.

não! um erro grotesco

Enquanto arrematava a gola usando o arremate surpreendentemente elástico da Jeny, pensava que seria legal escrever um passo-a-passo sobre esse arremate.

Foi nessa hora que vi um erro absurdo na parte final da pala. Eu mal acreditava nos meus olhos. Por alguma razão eu não mantive o padrão de intercalar tranças à direita com tranças à esquerda, justamente o que dá o efeito entrelaçado. Simplesmente trabalhei todas as tranças à esquerda.

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Pausa para desmanchar toda a gola e depois desmanchar toda a pala. Retornei ao ponto onde as mangas são unidas ao corpo. Decidi aproveitar para fazer duas alterações.

Primeira alteração: no quadrado da fotografia abaixo vemos uma coluna de quatro pontos meia que divide a manga raglã da pala. Vou alterar para que fique com três pontos.

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Segunda alteração: a tira de abotoamento é trabalhada em barra 2×2, iniciando e terminando com 2m. Na fotografia abaixo vemos que os primeiros 2m mais parecem 1m porque o primeiro ponto se curva para dentro. Vou iniciar e terminar com 3m, mas vou manter a barra 2×2 no restante do trabalho.

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Uma semana mais tarde, eu tinha refeito tudo!

A pala exibia as tranças nas direções certas e era separada da manga por uma coluna de três pontos. A tira de abotoamento iniciada e finalizada com 3m realmente ficou com um visual mais coerente com o restante.

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acabamento

Transferi os doze pontos da cava do braço e da manga para agulhas de pontas duplas e arrematei usando o arremate de três agulhas. Ficaram buracos enormes em cada extremidade do arremate. Desmanchei o arremate, levantei mais alguns pontos nas extremidades de cada agulha usando laçada torcida. Talvez os doze pontos iniciais de cada agulha tenham virado quatorze ou quinze. Funcionou muito bem. Ainda assim tive de fechar buraquinhos minúsculos que restaram quando fui embutir as pontas.

Escolhi botões de madeira para combinar com o casaco.

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Quando montei os pontos desse casaquinho, achei que terminaria em duas semanas. A triste verdade é que não tenho tanto tempo para tricotar. No meio da semana, só tricoto algumas noites. Nos fins-de-semana tenho mais tempo, mas nem sempre. E olha que eu tricotei esse casaquinho em todas as oportunidades que tive: levei na bolsa, levei ao clube para tricotar depois da academia, levei na viagem. Mesmo assim demorou um mês e meio para terminá-lo.

Achei uma delícia fazer essa peça. É uma receita muito bonita, nem um pouco monótona e com certeza vou tricotá-la novamente. A receita é paga, mas nem tudo é explicado. Temos de ponderar, pensar bastante no que deve ser feito. Acredito que essa receita seja mais indicada para uma tricoteira com mais experiência.

Meu marido acha que é o casaquinho mais bonito que já tricotei até hoje.
Eu acho que ele tem razão!

Receita: Cardigan Gramps de Kate Oates (pode ser comprada também no Ravelry)
Fio: Cisne Cetim – cor 04026
Composição: 70% acrílico, 30% lã
Agulhas: circulares de numeração 3,50mm e 4,00mm

Veja esse projeto no Ravelry

35 respostas em “cardigã do vovô para o bebê

  1. Valéria a sutileza da sua narração foi d+++++ li tudo e não entendi nada é claro, como vc mesma disse é para tricoteiras experientes, não é o meu caso hehehe mas ficou um desbunde de lindo, fico fascinada com a facilidade que vc tem em desvendar receitas pagas e em inglês, parabéns, amadorei

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  2. Super lindo e fofinho. Bébé sortudo! Os meus parabéns, Valéria e um grande abraço.
    Isaura

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  3. E maravilhoso, adorei o texto também, eu teria desistido faz tempo, admiro sua dedicação e o fruto de tudo isso, esta ali, impecável! Parabéns!

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  4. Valéria querida, você é uma artista e uma super professora! Suas explicações são ótimas, principalmente quando você mostra os defeitos e como corrigi-los; parabéns e obrigada!

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  5. Olá, Valéria
    Estupendo o casaquinho, mó capricho.
    Sabe, se eu tivesse que tecer o casaquinho, aproveitaria suas modificações ( com 3 meias subindo a cava, ficou bem mais delicado ) e faria mais delicado ainda a subida dessa cava, só com 2 pontos meia ao invés de 3, de tal forma que casaria direitinho com os 2 meias vindo da trança, observa? o que daria a impressão de continuidade do desenho propositalmente.
    beijão, querida.

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  6. maravilhoso, joao e eu estamos apaixonados!!!!!!!!!!!! muitíssimo obrigada!!!!!!!!!!

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  7. Ficou lindo mesmo essas tranças dão um charme muito especial parece um casaco adulto , mas discordo de vc o casaco de morango era muito mais lindo kkkkk bjs

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    • Ai Val fiz algumas golinhas e polaina que voltaram a moda esta quase pronto um par de meia , mas meu projeto mesmo vai ser uma toalha que estou traduzindo ja que não sei ler grafico kkkk tem que ser escrita mas vamos que vamos, adoro o jeito que vc escreve é um dom bjs

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  8. Minha amiga graduada e doutorada em tricô, amei a sua explicação, não entendi nada!!!!rsrs, mas as sua maneira de narrar tudo foi fascinante, detalhadíssima, parabéns o Joaquim irá ficar mto chique dentro desse casaco maravilhoso e a cor, amei, cumprimento-lhe mais uma vez pela sua capacidade e generosidade, mto obrigada téka

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  9. Valéria, eu tenho tentado comentar… mas as vezes num vai… ai… Vamos de novo! Que coisinha mais linda! Meu Deus do Céu, que dom! Obrigada por compartilhar conosco a sua preciosidade, o seu carinho, e o seu amor pelo tricô…fico imaginando você em outros dons…muito linda você é!

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  10. Menina que persistência! Mas é assim mesmo que funciona a cabeça de uma tricoteira… tem que ficar perfeito, com ou sem modificações! Amei cada detalhe narrado. O casaquinho ficou um clássico maravilhoso!! Imagino o menininho nele:)) Isso sim é uma peça pra guardar pra vida inteira! Parabéns!!!

    bjinhos

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  11. Que lindo Valeria também tenho uma filha Valeria te acompanho desde algum tempo e não tem como não se admirar com seus trabalhos
    Que Deus te ilumine hoje e sempre.

    Nayde

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  12. Uau!
    O Joaquim vai ser o bebê mais fofo e sorridente do planeta com este casaquinho maravilhoso.
    Não me canso de escrever…. parabéns Valéria!

    Beijo

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  13. Bom dia adorei o casaco, VC vende??? Qto custa para um bebê de 1 ano???
    Aguardo um retorno, grata

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  14. Eu adorei esse casaco, gostaria de fazer para meu filho, mas n tenho a minima ideia de como começar…minha familia toda tem o dom da costura e do tricô…mas minha mãe n sabe fazer essas coisas tão lindas assim…aprendi a fazer ponto d cruz com minha prima…vc n teria como me indicar algo para q eu posso começar com esse casaco…tipo um video?

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  15. Olá boa noite

    Amei este casaco, tenho menino de 2 anos e vi que seu projeto se encaixa no tamanho que eu gostaria de fazer.Poderia me enviar receita?

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    • Olá Driellyn,

      Como todas as receitas (grátis ou pagas), essa receita possui direitos autorais que eu não detenho. Pertence à pessoa que a criou. Só ela determina o modo de distribuição da receita, que nesse caso foi mediante pagamento.

      Se eu distribuísse essa receita estaria lesando financeiramente a pessoa que criou essa receita e que vive de criar e vender receitas de tricô. Além disso eu estaria cometendo um crime, já que não detenho os direitos dessa receita.

      Espero que compreenda.

      Beijinho,
      Valéria Garcia

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  16. conheci agora teu trabalho e achei muito lindo, adorei a tua prosa, é deliciosa

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  17. Parabéns, que trabalho maravilhoso! Valeu a pena tanto trabalho, faz, desmancha, faz novamente, muda…Mas que lindo ficou. Quero fazer mas temo não acertar. E não sou muito paciente….

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  18. Ficou lindo só poderia ter colocado a receita também, falou tanto, mas a receita pra ajudar as colegas nada 😉

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    • Oi Williana, tudo bem?

      Eu fiquei muito feliz em saber que você achou que o casaquinho
      do Joaquim ficou lindo. Essa receita é muito graciosa! Até hoje
      não sei porque ainda não tricotei outro casaquinho igual.

      Falando um pouquinho mais sobre essa receita, eu gostaria de
      esclarecer que ela não é de minha autoria e por esse motivo eu
      não tenho direito nenhum sobre ela.

      Copiar e colar uma receita que não é sua, mesmo que seja grátis,
      é um crime. E essa receita não é minha e não é grátis. Eu comprei
      a receita no site da autora para que eu pudesse tricotá-la.

      O Tricô em Prosa existe para que eu possa falar sobre tricô.
      Não quero lesar ninguém.

      Algumas vezes, quando a receita é grátis, eu escrevo para a autora
      pedindo permissão para traduzir. Algumas vezes elas autorizam,
      outras vezes não. Sempre que tenho autorização, eu publico a
      tradução aqui no blog.

      Beijinho,
      Valéria Garcia

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